Muitos conhecem bem o que é a Black Friday, que foi o evento criado pelo varejo nos Estados Unidos para nomear uma ação de vendas anual, onde diversas lojas promovem descontos significativos para os consumidores, na 4ª sexta-feira de novembro após o feriado de Ação de Graças.
Mas e a Black Wednesday?
A Black Wednesday refere-se à quarta-feira de 16 de setembro de 1992, ocasião em que o governo conservador britânico foi “obrigado” a tirar a libra esterlina do European Exchange Rate Mechanism (ERM), precursor do Euro, depois que o Reino Unido não conseguiu honrar com o limite de flutuação de 6% da libra esterlina em relação ao Marco alemão.
O European Exchange Rate Mechanism (ERM) foi um sistema introduzido pela Comunidade Europeia em março de 1979, como parte do Sistema Monetário Europeu [European Monetary System (EMS)], para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio e alcançar a estabilidade monetária na Europa, em preparação para a União Econômica e Monetária de seus países membros.
Embora não tendo aderido no primeiro momento a tal mecanismo, em outubro de 1990 o Reino Unido decidiu aderir ao European Exchange Rate Mechanism (ERM), comprometendo-se a seguir a política econômica e monetária definida, o que impediria que a taxa de câmbio entre a libra esterlina e o Marco alemão flutuasse mais de 6%.
O problema foi que a conjura econômica daquele momento não era propícia a tal adesão. A Alemanha adotava elevada taxa de juros para conter a inflação, em virtude dos elevados gastos decorrentes da unificação entre a Alemanha Ocidental (muito forte economicamente) e a debilitada Alemanha Oriental. A inflação no Reino Unido era três vezes maior que a inflação alemã. Boa parte das exportações britânicas foram precificadas em dólar (USD) e naquela ocasião o dólar tinha sofrido rápida depreciação. Adicionalmente, os traders (operadores) de câmbio não estavam confiantes com relação ao futuro do European Exchange Rate Mechanism (ERM), principalmente após a rejeição do Tratado de Maastrich pelo eleitorado dinamarquês (não aderindo ao ERM), na primavera de 1992, e o anúncio de que também haveria um referendo na França, pressionando a desvalorização da libra esterlina.
A pressão sobre a libra esterlina era enorme e o então primeiro-ministro John Major tentou veementemente evitar a retirada do Reino Unido do European Exchange Rate Mechanism (ERM). Desta forma, o Tesouro britânico operou comprando freneticamente libras esterlinas, que eram facilmente vendidas nos mercados de câmbio, e no dia 16 de setembro de 1992 aumentou a já alta taxa de juros de 10% para 12%, com o intuito de conter os ânimos dos especuladores. Como a medida não surtiu efeito, no mesmo dia a taxa de juros foi elevada para 15%. Entretanto, os traders continuaram vendendo libras esterlinas, convencidos que o governo não conseguiria impedir que a libra esterlina caísse mais que o nível mínimo estabelecido quando da adesão ao European Exchange Rate Mechanism (ERM). Então, por volta das 19 horas daquela quarta-feira, Norman Lamont, então Chanceler, anunciou que o Reino Unido deixaria o European Exchange Rate Mechanism (ERM) e que a taxa de juros seria mantida em 12% (no entanto, a taxa de juros no dia seguinte voltaria a 10%). Este dia conhecido como Black Wednesday pode ser considerado como o dia D para que o Reino Unido não adotasse o Euro como moeda.
Vários traders aproveitaram-se da situação e acreditaram na queda da libra esterlina. Contudo, destaca-se o megainvestidor George Soros, que vendeu USD 10 bilhões em libras esterlinas a descoberto (short-selling sterling) e obteve um lucro de USD 1 bilhão (um bilhão de dólares). Por este fato, George Soros é conhecido como “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra”.
Em 1997, o Tesouro do Reino Unido estimou que o custo da quarta-feira negra foi de £3,3 bilhões.
Embora muitos britânicos acreditem que a Black Wednesday tenha sido um verdadeiro desastre nacional, alguns conservadores afirmam que a expulsão forçada do European Exchange Rate Mechanism (ERM) foi na verdade uma quarta-feira de ouro (Golden Wednesday) ou uma quarta-feira branca (White Wednesday), o dia em que foi aberto o caminho para a recuperação econômica, levando ao restabelecimento do crescimento econômico, com desemprego e inflação caindo (tendo esta última começado a cair antes da quarta-feira negra).