terça-feira, 21 de agosto de 2018

Dólar ultrapassa os quatros reais (USD/BRL) e chega a R$ 4,05.


Vide gráfico com a evolução do real em relação ao dólar de 2011 a 2018.

OBS1: Em média, quanto mais cara, mais desvalorizada, uma moeda está, pior a condição econômica do país em relação a economia global.

OBS2: Empresas expostas a variação cambial necessitam redobrar suas atenções e utilizar instrumentos financeiros derivativos (estratégias com opções, futuros, NDF, swap), principalmente diante das incertezas atuais decorrentes do processo eleitoral. 

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Vide algumas estratégias com derivativos em apresentação (em especial as estratégias com opções e o caso Sadia) no meu perfil no LinkedIn

Real desvaloriza mais de 28% em um ano ante o dólar, depreciação bem maior que outras moedas globais

Entre as principais moedas globais o Real brasileiro (R$ - BRL) foi a que teve o pior desempenho nos últimos 12 meses, com desvalorização de mais de 28%. Das moedas selecionadas no gráfico abaixo, mais três países integrantes dos BRICS vêm longo em seguida. O Rublo russo depreciou mais de 16%, o Rand sul-africano caiu 11% e a Rúpia indiana teve queda de pouco mais de 9%. O Yuan da China, mesmo com a guerra comercial com os Estados Unidos, depreciou apenas 4%.


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Já no polo extremo de desvalorização cambial, ressalta-se a impressionante mega-hiper-depreciação do Bolívar venezuelano (VEF) de mais de 2.500.000,00% e mudou de nome para Bolívar soberano (VES). Adicionalmente, nos últimos 12 meses, a Lira turca depreciou 76% e o Peso argentino 74%. 

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A desvalorização do Real (R$) em relação ao dólar (USD) em um ano foi a oitava maior dentre 130 moedas analisadas.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O que tem acontecido com as grandes empresas de auditoria?

Esta terceira semana de agosto de 2017 está sendo fruto das maiores multas impostas por órgãos fiscalizadores às grandes empresas de auditoria.

Na terça-feira, 15 de agosto de 2017, a Securities and Exchanges Commission (SEC), Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, anunciou que a KPMG concordou em pagar mais de US$ 6,2 milhões em multa por falhas na auditoria das demonstrações financeiras da empresa de petróleo e gás, Miller Energy Resources. A KPMG foi contratada como auditoria externa da Miller Energy Resources em 2011 e emitiu relatório de auditoria “não qualificado” (sem ressalvas). Segundo a SEC, a KPMG e seu sócio de auditoria, John Riordan, não avaliaram adequadamente os riscos associados à aceitação da Miller Energy como cliente e não conduziu o processo de auditoria adequadamente, ignorando a avaliação de certos ativos de petróleo e gás que a empresa havia comprado no Alaska no ano anterior. Entre outras falhas de auditoria, a KPMG e Riordan não consideraram e abordaram adequadamente os fatos conhecidos que deveriam ter levantado sérias dúvidas sobre a avaliação da empresa e não conseguiram detectar que certos ativos fixos foram contados em duplicidade.

As empresas de auditoria devem compreender completamente as indústrias de seus clientes. A KPMG manteve um novo cliente e não conseguiu entender como valorizava os ativos de petróleo e gás, resultando em investidores desinformados de que os ativos de petróleo e gás comprados por menos de US$ 5 milhões foram avaliados em meio bilhão de dólares", disse Walter E. Jospin, diretor da SEC - escritório regional de Atlanta. A estimativa, que a SEC considerou fraudulenta, ajudou a transformar uma penny stock (ação/empresa de pequeno valor) em uma empresa listada na Bolsa de Valores de Nova Iorque (New York Stock Exchange – NYSE).

A SEC conclui que a KPMG e Riordan se comprometeram em uma conduta profissional imprópria e causaram a violação da seção 13(a) do Securities Exchange Act e Regras 13a-1 e 13a-13. Sem admitir ou negar as descobertas, a KPMG concordou em ser multada e pagar US$ 4.675.680 referente a todas as taxas de auditoria recebidas da Miller Energy mais US$ 558.319 em juros e uma penalidade de US$ 1 milhão. A KPMG também concordou com compromissos significativos destinados a melhorar seu sistema de controle de qualidade. Riordan concordou, sem admitir ou negar as descobertas, em pagar uma penalidade de US$ 25.000 e ser suspenso de atuar como contabilista perante a SEC, o que inclui não participar dos relatórios financeiros ou auditorias de empresas de capital aberto. A decisão da SEC permite que Riordan solicite reintegração após dois anos.

Já na quarta-feira, 16 de agosto de 2017, a PwC (PricewaterhouseCoopers LLP) foi multada em 5,1 milhões de libras esterlinas (US$ 6,6 milhões) por má conduta em relação a auditoria de 2011 do RSM Tenon Group Plc, na maior sanção emitida pelo regulador contábil do Reino Unido, o Financial Reporting Council (FRC)*. A PwC e Nicholas Boden (sócio de auditoria da PwC junto a RSM Tenon), membros do Institute of Chartered Accountants in England and Wales (ICAEW), admitiram que suas condutas caíram significativamente abaixo dos padrões razoavelmente esperados de um membro e de uma Empresa membro e que eles não agiram de acordo com o Princípio Fundamental da Competência Profissional e Cuidado Devido do ICAEW. Os atos admitidos de má conduta incluem falhas para obter provas de auditoria adequadas suficientes e falhas no exercício do ceticismo profissional. A falta de conduta foi extensiva, compreendendo cinco atos separados admitidos em relação às seguintes áreas da auditoria: acumulação de pagamentos de bônus, certos aspectos em relação ao reconhecimento de trabalhos em andamento e valores recuperáveis ​​em contratos, contabilização de contrato de arrendamento, avaliação do impairment e cálculo do ágio em relação a uma subsidiária.

O Conselho Executivo do FRC concordou com os seguintes termos de liquidação:

- PwC LLP: multa de £ 6.000.000 reduzida para £ 5.100.000 após desconto de liquidação; severa reprimenda; e £ 500.000 a serem pagas pelos custos do Conselho Executivo do FRC.
- Nicholas Boden: multa de £ 150.000 reduzida para £ 114.750, após ajuste por fatores atenuantes e desconto para liquidação; e severa reprimenda.
- Os procedimentos contra Russell McBurnie, ex-diretor de finanças da RSM Tenon Group Plc, ainda estão em andamento.

Desculpe-nos que os aspectos da auditoria realizada em 2011 tenham ficado aquém dos padrões profissionais. Continuamente revisamos e atualizamos nossos processos de auditoria em resposta a avaliações internas e resultados de inspeção externa", disse um porta-voz da PwC.

A penalidade recorde ocorre apenas três meses depois de a PwC ter incorrido em outra multa recorde por má conduta em relação à auditoria da Connaught Plc. O FRC emitiu uma sanção de 5 milhões de libras contra a PwC no caso Connaught, em maio de 2017, tendo sido a maior penalidade até então. Outro caso de penalidade por deficiências de auditoria foi a multa de £ 4 milhões que o FRC impôs a outra gigante de auditoria, a Deloitte, em novembro de 2016, por suas auditorias na Aero. O FRC abriu uma série de investigações envolvendo empresas bem conhecidas nos últimos anos. O cão de guarda (FRC) iniciou pesquisa nas auditorias da PwC na BT Group Plc em junho de 2017, na sequência de um escândalo contábil na unidade italiana da empresa, enquanto a KPMG Audit Plc está enfrentando um verdadeiro escrutínio sobre seu trabalho na empresa de moda Ted Baker Plc.

Os casos da KPMG e da PwC são parte de um impulso internacional para melhorar a qualidade das auditorias externas. As quatro grandes empresas de auditoria – Deloitte, EY, KPMG e PwC – foram atingidas por escândalos contábeis nos últimos 12 meses.

Melanie McLaren, diretora executiva de auditoria e atuarial do FRC, disse:

A auditoria de alta qualidade sustenta a confiança do público nos negócios. O foco da liderança da empresa de auditoria na qualidade da auditoria é um dos principais impulsionadores de boas auditorias e é vital para promover uma cultura de melhoria contínua. Embora os progressos realizados pelas empresas individuais sejam diferentes, todas as empresas estão investindo na qualidade da auditoria e têm estabelecido novas ações para melhorar”.

Felizmente as empresas de auditoria externa, em especial as Big Four (Deloitte, EY, KPMG e PwC), possuem padrões de qualidade altíssimos, apesar da existência desses casos excepcionais, e mais ainda, passam por uma série de revisões, inclusive entre os pares, revisões internas e revisões pelos cães de guarda (Watchdogs – FRC, SEC, etc).




* O Financial Reporting Council (FRC) é o regulador independente do Reino Unido responsável pela promoção de governança corporativa de alta qualidade e relatórios para promover o investimento. O FRC estabelece os códigos de governança corporativa e de administração do Reino Unido e os padrões do Reino Unido para o trabalho contábil e atuarial; monitora e atua para promover a qualidade do relatório corporativo; e opera acordos de execução independentes para contabilistas e atuários. Como a Autoridade Competente para auditoria no Reino Unido, o FRC estabelece padrões de auditoria e ética e monitora e impõe a qualidade da auditoria. Em relação às questões de execução, o FRC é o órgão independente, investigativo e disciplinar de contabilistas e atuários no Reino Unido que trata de casos que levantam questões importantes que afetam o interesse público. As etapas do processo disciplinar no âmbito do Esquema de Contabilidade são: Decisão de investigar; Investigação; Decisão de apresentar processos de execução contra Empresa-Membro ou Membro e, se assim for decidido, encaminhamento ao Tribunal Disciplinar; Audiência no Tribunal; Determinação e imposição de ordens de sanção e / ou custas. No âmbito do regime de contabilidade, o FRC pode iniciar uma investigação disciplinar de duas formas: (i) os órgãos profissionais podem encaminhar casos para o FRC; e (ii) o FRC pode decidir por sua própria iniciativa investigar um assunto. O Comitê de Conduta considerará cada caso identificado ou encaminhado a ele e decidirá se os critérios para uma investigação estão ou não preenchidos. Os critérios são especificados no parágrafo 5(1) do Esquema Contábil. Um membro ou uma empresa membro só pode ser investigado no âmbito deste regime quando, na opinião do Comitê de Conduta, o assunto levanta ou parece suscitar questões importantes que afetem o interesse público no Reino Unido e existem motivos razoáveis ​​para suspeitar que pode haver falta de conduta ou parecer que o Membro ou a Empresa Membro não cumpriu com alguma das suas obrigações nos termos do parágrafo 14(1) ou 14(2) do Esquema. As investigações são realizadas pelo Conselho Executivo e pela Divisão de Execução. 

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Perspectivas econômicas para 2017 e 2018

O Boletim Focus – Relatório de Mercado de 11 de agosto de 2017, do Banco Central do Brasil, divulgado nesta segunda-feira, 14 de agosto de 2017, trouxe algumas informações muito positivas. A meta da taxa Selic deve continuar caindo e deve encerrar 2017 entre 7,25% ao ano e 7,50% ao ano e prevê este mesmo patamar para o encerramento de 2018. Com isso, a expectativa de taxa Selic média para 2017 caiu de 10,16% ao ano (relatório divulgado há quatro semanas) para 9,91% ao ano e para 2018 caiu de 8,00% ao ano para 7,41% ao ano. Tal fato, além de ajudar na não escalada da dívida pública e consequente não aumento das despesas com serviços da dívida (principalmente juros da dívida), traz boas perspectivas para reduzir o déficit nominal (resultado primário menos os serviços da dívida), boa expectativa de retomada do crescimento, queda do desemprego, redução dos juros ao consumidor final (tanto pessoa física como pessoa jurídica), além de estimular o mercado de capitais, visto que as empresas sociedades anônimas poderão captar recursos via debêntures e commercial papers (notas promissórias) a taxas mais baixas, pode também alavancar o processo de ofertas públicas de ações que devem ganhar mais espaço em 2018 (e que inclusive já tem dado sinais de recuperação em 2017), e os investidores agora poderão (ou deveriam) migrar de aplicações financeiras como caderneta de poupança para investimentos em ações ou outros fundos de investimentos, investimentos estes que devem continuar subindo por algum tempo e remunerando acima da maior parte dos investimentos de renda fixa. Para os investidores mais curiosos, uma dica seria observar os Certificados de Operações Estruturadas (COE), que mesclam elementos de Renda Fixa e Renda Variável e podem ter valor nominal (investimento) protegido ou em risco. Os Certificados de Operações Estruturas (COE) são muito interessantes para quem não tem conhecimento aprofundado em operações com opções, mas são interessados e querem investir em opções mesmo que indiretamente.

Caso não ocorram “atos de Deus” [como uma guerra contra a Coreia do Norte, um atentado terrorista muito impactante, sérios problemas de negociação na OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), descoberta de esquemas de corrupção ainda maiores do que os já identificados, impeachment de Temer, guerra civil entre brancos e “defensores do politicamente correto” nos Estados Unidos, catástrofes naturais como terremotos e furações, etc.], a tendência é de maior estabilidade e recuperação no Brasil e é muito possível que o IBOVESPA saia da faixa atual de 67 mil pontos e chegue a ultrapassar os 73 mil pontos, o que é uma ótima oportunidade para investimentos de curto e médio prazos no mercado de ações, seja diretamente para quem domina as técnicas necessárias (mais análise técnica e um pouco de análise fundamentalista), seja indiretamente através de fundos de investimento em ações ou mesmo em alguns fundos de investimento multimercado.

Para o mercado de câmbio é esperado que no fim de 2017 a taxa de câmbio (reais por dólares) fique entre R$ 3,25/US$ e R$ 3,30/US$ e que a taxa média no ano de 2017 fique em R$ 3,19/US$, e R$ 3,34/US$ em 2018, e a taxa para o fim de 2018 está sendo projetada entre R$ 3,36/US$ e 3,48/US$. Resumindo, é possível que ocorra alguma alta, mas de forma lenta.

O panorama para o Petróleo é que siga entre US$ 40 e US$ 55 por barril, com o excesso de produção na OPEP principalmente por causa das concessões feitas a Nigéria e Líbia (países isentos de limites de produção devido a sofrerem com a guerra civil em 2016) e devido ao aumento incessante na produção de shale oil (petróleo* de xisto) nos Estados Unidos.

O exercício de análise e previsão não é uma técnica perfeita (apesar da tentativa continua de maior eficácia, robustez), mas nos fornece um bom guia, uma boa visão sobre as perspectivas futuras. A expectativa atual é positiva, principalmente na ausência de “atos de Deus” (os atos de Deus não estão precificados nos preços dos ativos, pelo menos não integralmente*). Ressalta-se, entretanto, que nenhuma operação que for ou vier a ser realizada por qualquer leitor baseando-se nas informações aqui fornecidas é de responsabilidade do blog e/ou do seu autor, cabendo ao leitor, exclusivamente, a decisão de adquirir ou alienar bens e valores mobiliários e o eventual ônus ou retorno financeiro decorrente de tal decisão. Qualquer decisão de compra ou venda de títulos e valores mobiliários deverá ser baseada em informações públicas existentes sobre os referidos títulos. Maior atenção ao investir em renda variável. O investidor deve estar ciente de que rentabilidade passada não significa certeza de rentabilidade futura.





quarta-feira, 24 de maio de 2017

Análise Técnica: Hipótese de Mercados Adaptáveis (AMH) e o que há de mais moderno na pesquisa recente

Livre tradução de parte do texto “Technical Analysis: Modern Perspectives
Por Gordon Scott, CMT; Michael Carr, CMT; Mark Cremonie, CMT, CFA

Como os analistas técnicos procuraram novas estratégias para lucrar com os movimentos do mercado, os pesquisadores buscam novas teorias para explicar a razão por trás dos movimentos. Essas buscas se cruzam em vários pontos.

Notavelmente, a hipótese de mercados adaptáveis (AMH – Adaptive Market Hypothesis), “The Adaptive Markets Hypothesis”, Andrew W. Lo, Journal of Portfolio Management (2004), vê os mercados menos como uma estrutura construída sobre a teoria econômica neoclássica e mais como um sistema evolucionário. Lo propõe uma visão biológica dos mercados em vez de uma visão baseada nas leis da física. Sob este modelo, os indivíduos, agindo em seu próprio interesse, cometem erros ao invés de agir de forma perfeitamente racional em todos os momentos. Os indivíduos aprendem com suas ações passadas e adaptam suas ações no futuro para refletir o conhecimento que adquiriram. Esse quadro incorpora conceitos evolutivos – incluindo a concorrência, a inovação e a seleção natural – e demonstra que os mercados se moverão entre extremos irracionais e eficientes.

Esta abordagem é semelhante à pesquisa feita no Santa Fe Institute, uma organização de pesquisa que busca estudar disciplinas interdisciplinares de sistemas complexos, incluindo economia e mercados de ações. Entre as pesquisas produzidas pelo Santa Fe Institute estão artigos que suprem a lacuna entre teoria econômica e mercados financeiros. No artigo “An Empirical Behavioral Model of Price Formation”, Mike e Farmer (2005) explicam que embora a economia comportamental tenha demonstrado que há muitas situações em que a escolha racional é um modelo empírico deficiente, até agora não conseguiu fornecer modelos quantitativos de problemas econômicos, como a formação de preços. Mike e Farmer dão um passo nessa direção, desenvolvendo modelos empíricos que capturam regularidades comportamentais na colocação e no cancelamento de ordens de negociação usando dados da Bolsa de Valores de Londres (London Stock Exchange). Para a colocação de ordens foi mostrado que a probabilidade de dar uma ordem a um determinado preço é bem aproximada por uma distribuição de Student (Student distribution) com menos de dois graus de liberdade, centrada no melhor preço cotado. Esse resultado é surpreendente porque implica que o posicionamento da ordem de negociação é simétrico, independente do spread bid-ask (diferença entre a ordem de compra e a ordem de venda), e o mesmo vale para compra e venda.

Mike e Farmer também desenvolveram um modelo bruto, mas simples, de cancelamento, que depende da posição de uma ordem relativa ao melhor preço e do desequilíbrio entre ordens de compra e venda no livro de limite de ordens (limit order book). Estes resultados foram combinados para construir um modelo estocástico de agente representativo (stochastic representative agent model), no qual as ordens e cancelamentos são descritos em termos de distribuições de probabilidade condicional. Este modelo é usado para simular a formação de preços e os resultados são comparados a dados reais da Bolsa de Valores de Londres (London Stock Exchange). Sem ajustar qualquer parâmetro baseado em dados de preços, o modelo produz boas previsões para a magnitude e forma funcional da distribuição de retornos e o diferencial bid-ask. Ao identificar modelos matemáticos de colocação de ordens, o trabalho demonstra que a ação dos preços fornece informações significativas aos participantes do mercado. Outros trabalhos demonstram que os participantes do mercado se adaptam às informações fornecidas pelo mercado e reagem aos preços e não exatamente o oposto, quando fatores fundamentais e econômicos afetam os preços.

No artigo “Market Force, Ecology and Evolution”, Industrial and Corporate Change (2002), Farmer também descobriu que os mercados reais podem ser duplicados com modelos que incluem uma variedade de traders. Seu modelo evolutivo incluiu investidores de valor (value investors), analistas técnicos, traders de liquidez (liquidity traders) e formadores de mercado (market makers). Suas interações em simulações computacionais espelharam a ação do mercado vista nos mercados reais. Os mercados têm dinâmicas internas que levam ao excesso de volatilidade e outros fenômenos que são difíceis de explicar usando modelos de expectativas racionais. Este artigo estudou a utilização de uma regra de formação de preços de não equilíbrio, desenvolvida no contexto de negociação com ordens de mercado. Como isso é muito mais simples do que um modelo de equilíbrio intertemporal padrão, é possível estudar analiticamente vários períodos dos mercados. A dinâmica dos preços tem termos oscilatórios de segunda ordem. Investir em valor (value investing) não necessariamente implica que os preços sigam tais valores. Seguir a tendência (trend following) implica em tendências de curto prazo nos preços, mas também provoca oscilações de longo prazo. Quando o investimento em valor (value investing) e o seguimento de tendências (trend following) são combinados, mesmo que haja pouca estrutura linear, pode haver ciclos de crescimento-queda, volatilidade em excesso e temporalmente correlacionada, e caudas gordas nas flutuações dos preços. A evolução a longo prazo dos mercados pode ser estudada em termos dos fluxos de dinheiro. Os lucros podem ser decompostos em termos de correlações agregadas em pares. Sob reinvestimento de lucros, isso leva a um modelo de alocação de capital que é equivalente a um modelo padrão em biologia populacional. Uma investigação da eficiência do mercado mostra que os padrões criados pelos seguidores de tendências (trend following) são mais resistentes à eficiência do que aqueles criados por investidores de valor (value investing) e mostra que o comportamento de maximização do lucro retarda a progressão para a eficiência. As estimativas da ordem de grandeza sugerem que a escala de tempo para a eficiência é de anos a décadas. A descoberta de Farmer é que os mercados funcionam através de interações dos vários tipos de traders [investidores de valor (value investors), analistas técnicos, traders de liquidez (liquidity traders) e formadores de mercado (market makers)].

A hipótese de mercados adaptáveis (AMH) e as teorias evolucionárias dos mercados preveem que algumas técnicas de investimento funcionarão às vezes e serão ineficazes em outras ocasiões à medida que os traders se adaptam ao seu ambiente atual. Esta conclusão é apoiada por pesquisas que encontraram que a análise técnica é eficaz em alguns momentos e em alguns mercados e ineficaz em outros momentos.

Nos últimos anos os pesquisadores concluíram que a análise técnica pode fornecer resultados rentáveis nos mercados de câmbio. Em particular, Po-Hsuan Hsu, Mark P. Taylor e Zigan Wang concluem, no artigo “Technical Trading: Is It Still Beating the Foreign Exchange Market?”, Journal of International Economics (2016), que a análise técnica tem poder de previsão para moedas tanto de países desenvolvidos como de países emergentes, em termos de gerar significativos retornos excedentes médios e expressivas razões de Sharpe (Sharpe ratios), mas as moedas dos mercados emergentes são, em geral, mais previsíveis com a análise técnica do que as moedas dos países desenvolvidos. Além disso, este excesso de rentabilidade não é, em geral, eliminado quando se considera uma margem realista para os custos de transação, embora a rentabilidade da análise técnica entre as moedas dos mercados emergentes e dos países desenvolvidos pareça ter diminuído ao longo do tempo. Estas conclusões gerais também foram apoiadas por uma análise amostra de fora (out-of-sample analysis), que revelou, em particular, o desempenho muito impressionante da análise técnica para algumas moedas de mercados emergentes durante o período fora da amostra (2012-2015).


O que há de mais moderno?

Pesquisas recentes (Northington e Dahlberg, 2016) identificaram um indicador técnico conhecido como suporte resistência baseados em volatilidade (VBSR – Volatility-Based Support Resistance). Suporte e resistência são conceitos importantes a partir da análise de padrões baseados em gráficos. Esses níveis são áreas de preço em gráficos onde espera-se que a compra ou venda seja desenvolvida com pressão suficiente para inverter a direção da tendência. Acredita-se que o suporte e a resistência sejam desenvolvidos com base na psicologia dos investidores e às vezes são explicados em termos de aversão à perda. O VBSR quantifica os extremos de volatilidade com base na recente ação do preço e utiliza esses extremos para identificar futuros níveis de suporte ou resistência esperados (extremos da volatilidade quantificável). Este indicador utiliza os princípios clássicos de análise técnica para prever os níveis de suporte e resistência. Difere da análise técnica clássica usando cálculos matemáticos avançados para identificar os níveis de preços. Desta forma, o trabalho é reprodutível e testável. Também é explicável com a teoria das finanças padrão. A volatilidade implícita, um componente importante de alguns modelos de precificação, exibe uma tendência estatística para a reversão da média. O VBSR explora essa tendência para desenvolver um modelo de previsão estatística.

Os avanços recentes de softwares e na programação permitem que este indicador (e todos os indicadores) sejam testados de novas formas para análise técnica. Ao aplicar os princípios de teste de eventos a sinais indicadores, a validade estatística do sinal pode ser avaliada. Este método, combinado com a análise dos retornos excedentes, pode preencher a lacuna entre a teoria e a prática da análise técnica. Testes iniciais usando essas técnicas estão demonstrando que muitos indicadores técnicos amplamente utilizados não geram lucros por conta própria. Técnicas mais avançadas, como o VBSR, aumentam a lucratividade. É provável que a pesquisa continuada encontre uma variedade de ferramentas que explorem ineficiências do mercado com indicadores técnicos, uma façanha que é inteiramente possível sob a hipótese de mercados adaptáveis (AMH) e outras teorias avançadas.