terça-feira, 9 de maio de 2017

O Renascimento da Gestão Ativa: Mercados Financeiros Comportamentais *

* Livre tradução do texto “The Active Equity Renaissance: Behavioral Financial Markets” **
Por C. Thomas Howard
Coautoria de Jason Voss, CFA

Na série “O Renascimento da Gestão Ativa”, escrita por C. Thomas Howard, foram questionadas muitas ortodoxias da moderna teoria do portfolio (MPT), desafiando os modelos de mercados financeiros atualmente aceitos e explorando o declínio da moderna teoria do portfolio (MPT) e a loucura*** de usar a volatilidade como uma medida do risco de investimento.

Mas, ao minar os fundamentos da moderna teoria do portfolio (MPT), qual é a proposta para tomar o seu lugar?


Finanças comportamentais é a alternativa mais promissora

É hora de afastar-se da moderna teoria do portfolio (MPT) para uma alternativa mais promissora: Finanças Comportamentais. As ferramentas analíticas derivadas das Finanças Comportamentais são uma representação mais realista dos mercados financeiros e do comportamento humano e provavelmente substituirão as ferramentas limitadoras de riqueza da moderna teoria do portfolio (MPT) em uso atualmente. Infelizmente, essas mesmas ferramentas desatualizadas e ineficazes da MPT ajudam a selecionar e avaliar gerentes de gestão ativa de investimentos. Abandonar tais instrumentos obsoletos é crítico para inaugurar "O Renascimento da Gestão Ativa".

Um modelo comportamental totalmente desenvolvido dos mercados financeiros ainda não existe, mas vários conceitos subjacentes e suas implicações resultantes para a gestão de investimentos estão surgindo.


Futura Estrutura dos Investimentos

Os mercados financeiros são povoados por investidores humanos sobrecarregados com bagagem emocional e erros cognitivos associados. Em um contexto de mercado, esses erros são amplificados porque, no conjunto, eles criam o rebanho, o que leva a oscilações bruscas de preços. Multidões emocionais turbulentas causam extrema volatilidade dos retornos nos mercados financeiros. Não procure mais do que bolhas de preço do mercado de ações para evidenciar essas turbulências emocionais.


Conceito Comportamental 1: multidões emocionais, não mudanças nos fundamentos, impulsionam movimentos de preços nos mercados financeiros.

Os mercados financeiros não podem ser cuidadosamente embalados em um conjunto de equações matemáticas***. Os mercados são confusos e a única maneira de fazer sentido é vê-los em toda a sua desordem.

Nunca entenderemos porque os mercados e seus valores mobiliários subjacentes movem-se da mesma forma novamente em períodos de tempo mais curtos. Portanto, se nos perguntarem por que razão o mercado, uma ação ou outro valor mobiliário se movimentaram da mesma forma que em um determinado dia, a resposta honesta é quase sempre: "Não faço ideia". De fato, a pesquisa demonstra que apenas uma porcentagem mínima do mercado transaciona em um dado dia. No entanto, investidores e jornalistas de investimento sempre atribuem uma justificativa aos movimentos do mercado mesmo quando a causalidade implícita é quimérica (impossível de realizar, irreal). Inconcebível como isto pode ser, é um efeito do nosso primeiro conceito comportamental: Emoções – não fundamentos – são os principais motores dos mercados financeiros.


Conceito Comportamental 2: Os investidores não são racionais e os mercados financeiros não são informacionalmente eficientes.

Este conceito é diretamente contrário a alguns dos principais conceitos da teoria das finanças do século XX: que é esperado que os investidores sejam maximizadores de utilidade e que os preços de mercado refletem todas as informações relevantes.

A pesquisa de economia comportamental dizima o modelo de utilidade esperada. É praticamente impossível para um indivíduo coletar todas as informações necessárias e, em seguida, processar com precisão essa informação para chegar a uma decisão racional. Isso é conhecido como racionalidade limitada, introduzida pela primeira vez pelo economista Herbert Simon.

Ainda mais prejudicial, Daniel Kahneman, Amos Tversky e outros demonstraram de forma convincente que, mesmo quando todas as informações estão disponíveis, os indivíduos são altamente suscetíveis a erros cognitivos. Como concluíram Kahneman e Tversky após anos de pesquisa, os seres humanos normalmente não são “decisores racionais”, não tomam decisões racionalmente.

O próprio conceito de "utilidade" é falho. Se a utilidade procura injetar uma medida da felicidade na teoria econômica, então que aspecto da felicidade é medida: esperada, realizada ou lembrada? A pesquisa descobre que essas três são bastante diferentes, mesmo quando a mesma pessoa experimenta cada uma. A felicidade e, por sua vez, a utilidade são conceitos irremediavelmente maleáveis.

Uma vez que estamos fortemente predispostos a cometer erros cognitivos devido às nossas emoções, então é preciso apenas um pequeno passo para concluir que os mercados não podem ser informacionalmente eficientes. A evidência que sustenta esta conclusão é vasta: há centenas de anomalias estatisticamente verificadas na literatura acadêmica e mais continuam a ser encontradas.


Implicações para a gestão de investimentos

Uma imagem sombria dos mercados emerge: investidores emocionais, com suas tendências cognitivas e instinto de manada, constantemente afastam os preços do valor fundamental subjacente. Inesperadamente, analisar os mercados através de uma lente comportamental fornece uma estrutura mais confiável. Por quê? Porque os indivíduos raramente mudam seus comportamentos. E investidores que seguem as multidões são ainda menos inclinados a alterar seu comportamento coletivo.


Conceito Comportamental 3: As emoções dos investidores são o determinante mais importante da riqueza de longo prazo em uma carteira de investimentos.

Devemos considerar as emoções dos investidores e o comportamento resultante em todas as fases da gestão de investimentos. O processo começa com o planejamento baseado nas necessidades do cliente, no qual um portfolio separado é construído para cada necessidade diferente. Esta fase de planejamento inicial é fundamental para remover as emoções dos investidores do processo de construção de riqueza.

Para a parcela de crescimento da carteira, o foco está em um horizonte de investimento longo. A tarefa do consultor é encorajar os clientes a adotar essa visão de longo prazo, evitando ao mesmo tempo reações emocionais a eventos de curto prazo. As evidências indicam que tais decisões míopes de aversão a perda têm um efeito profundamente negativo sobre a riqueza. Coaching emocional é um dos serviços mais importantes que um consultor pode oferecer aos clientes.

Se o planejamento baseado nas necessidades for bem-sucedido, a carteira de crescimento pode ser investida em grande parte em altos retornos esperados, mas em títulos voláteis de curto prazo, como ações. É certo que é um desafio manter os clientes totalmente investidos evitando ao mesmo tempo decisões de negociação onerosas quando os mercados se tornam voláteis.


Distorções comportamentais dos preços

Quando um evento como o surpreendente voto pelo Brexit desencadeia nossas emoções, a maioria de nós reage de forma semelhante. Esta resposta coletiva é ampliada ainda mais pelo rebanho, manada. De fato, o efeito manada pode ocorrer mesmo sem um evento externo. Reagimos coletivamente porque vemos todos reagir, mesmo que nós não soubermos a razão para a dispersão (fuga) repentina.

Multidões emocionais turbulentas nos mercados criam oportunidades de compra numerosas para aqueles que não estão envolvidos no momento. Referimo-nos a essas oportunidades como distorções comportamentais dos preços.

Em contraste, estas são chamadas de “anomalias” na literatura acadêmica porque sua existência é inconsistente com a hipótese de mercado eficiente (EMH). Quando elas são incluídas nos modelos de precificação de ativos ou na construção de portfolios beta inteligentes, elas são chamadas de “fatores”. Preferimos o termo distorções comportamentais de preço porque elas são a consequência do comportamento emocional coletivo.


Conceito Comportamental 4: As distorções comportamentais dos preços são comuns nos mercados financeiros e podem ser usadas para construir estratégias de investimento bem-sucedidas.

As distorções são os ingredientes que os gerentes ativos usam ao criar uma estratégia de investimento. No caso de beta inteligente, eles são toda a estratégia. Para outros gerentes ativos, elas representam apenas uma parte da estratégia porque a “receita” ou o processo de tomada de decisão de um gerente de investimentos compõem o resto. As distorções comportamentais dos preços são essenciais para uma gestão ativa bem-sucedida.


Uma Nova Visão Mundial

Ver os investidores e os mercados como tomadores de decisões emocionais e ruins em vez de entidades computacionais racionais nos força a reconsiderar todos os aspectos da gestão de investimentos. Esses conceitos comportamentais fornecem a estrutura para repensar o planejamento financeiro do cliente, a alocação de ativos, a seleção de gestores de investimentos e a criação e execução de estratégias de investimento.

“Mudar para uma perspectiva comportamental é o primeiro passo para se tornar um analista financeiro comportamental. Pode parecer um passo radical, mas realmente é apenas o reconhecimento formal do óbvio. A sabedoria é ver o mundo pelo que é, não pelo que gostaríamos que fosse.”

Após o reconhecimento vem uma transição formal para ferramentas analíticas melhoradas, várias das quais C. Thomas Howard pretende destacar em futuros artigos. Essas ferramentas são as precursoras do "Renascimento da Gestão Ativa".


**Fonte:


*** Alguns trechos do artigo não representam necessariamente a opinião do blog https://gestaofinanceirapersonalizada.blogspot.com.br



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