Livre
tradução do texto “Technical Analysis:
Modern Perspectives”
Por Gordon Scott, CMT; Michael Carr, CMT; Mark
Cremonie, CMT, CFA
A
análise técnica fornece uma estrutura para auxiliar as decisões de
investimentos aplicando a metodologia de oferta e demanda aos preços de
mercado. Os princípios subjacentes ao estudo da análise técnica derivam do
pressuposto de que as mudanças na oferta e demanda de títulos negociados afetam
seus preços de mercado atuais. As ferramentas de análise técnica são
construídas em uma estrutura que procura obter insight das mudanças na oferta e demanda. Este quadro evoluiu ao
longo do tempo de uma análise puramente visual para técnicas mais
quantitativas. Como outras ferramentas analíticas, a análise técnica emprega
uma abordagem disciplinada e sistemática que procura minimizar o impacto dos
vieses comportamentais/emocionais da prática de seleção/gestão de investimentos.
Consequentemente, muitos analistas institucionais, estrategistas e gestores de
carteira (portfolio) unem a pesquisa
técnica com outras abordagens analíticas, como métodos quantitativos e análise fundamentalista.
Pesquisadores
independentes confirmaram o valor da análise técnica, começando com a
confirmação de anomalias de momentum.
Análise de momentum, ou força
relativa no vernáculo de analistas técnicos, tem sido aplicada desde pelo menos
a década de 1930. Atualmente é amplamente aceito que a análise da força relativa
pode ajudar os gestores de investimento a alcançar “excessos” estatisticamente
e economicamente significativos. Pesquisas adicionais confirmaram o valor de
outras ferramentas técnicas, incluindo análise de padrões, médias móveis e
indicadores.
Pesquisas
mais recentes abordaram o papel da análise técnica no contexto mais amplo dos
mercados financeiros e começam a traçar as ligações entre a economia
comportamental (Finanças Comportamentais), atores individuais nos mercados
financeiros e o papel da análise técnica no estudo do comportamento de atores
individuais. A evolução da análise técnica tem servido para abordar muitas das
críticas relacionadas a análise técnica. Observa-se que, ao longo do tempo, as
ideias expressas por Charles Dow no início do século XX foram validadas no
século XXI. Os pesquisadores estão agora avaliando as observações dos analistas
que se basearam nas teorias de Dow e os analistas técnicos estão aplicando essas
pesquisas à ação do mercado em tempo real.
A
ideia de que a análise técnica tem valor como ferramenta na pesquisa financeira
encontra forte apoio na literatura acadêmica, bem como no trabalho de muitos
profissionais. Para mostrar esse apoio, observam-se as publicações recentes e o
trabalho de um grande grupo de profissionais sobre o tema da análise técnica no
ambiente institucional.
Em
2015, a Market Technicians Association
(MTA), uma associação profissional mundial de profissionais de análise técnica,
realizou uma extensa pesquisa e análise de atividades relacionadas ao trabalho.
A pesquisa buscou identificar como os profissionais utilizam a análise técnica
como parte de sua atividade e particularmente o que consideram como parte mais
crítica do conteúdo da análise técnica e quais são as habilidades fundamentais
do analista técnico. Esta pesquisa é parte do processo contínuo da MTA de
manter as leituras do currículo atualizadas para os três níveis do exame Chartered Market Technician (CMT), FINRA
(Financial Industry Regulatory Authority)
– designação reconhecida para profissionais de análise financeira. A pesquisa
buscou identificar conhecimentos e habilidades específicas de análise técnica
que foram consideradas mais valiosas para os profissionais de hoje e, mais
especificamente, quais tarefas foram realizadas usando esse conhecimento e
habilidade. Esta pesquisa foi a mais abrangente de sua espécie já concluída.
A
análise das respostas da pesquisa indicou que a maioria dos profissionais não
usava a análise técnica isoladamente, mas sim integrada com o uso dessa análise
com outras habilidades e conhecimentos. As respostas também mostraram que a
abordagem utilizada pelos profissionais está evoluindo ao longo do tempo. Hoje
em dia, os profissionais precisam de uma compreensão não só de análise técnica,
mas também aspectos de outras disciplinas que podem fornecer contexto para o estudo
técnico. Com base nos insights dessas
respostas, o currículo do exame foi realinhado para corresponder à maneira como
a disciplina evoluiu e refletir a integração da análise técnica na pesquisa
financeira em geral. O currículo redesenhado se baseia em trabalhos que
discutem não apenas a análise técnica, mas também análise estatística, análise
quantitativa, finanças comportamentais e análise fundamentalista.
Para
ajudar os profissionais a apreciar e entender a evolução da análise técnica
como uma disciplina moderna, o currículo inclui um tratamento histórico, mudanças
recentes e práticas atuais da análise técnica. O currículo também inclui
leituras destinadas a ajudar os profissionais a compreender as questões que
fomentaram a resistência a esta disciplina no setor financeiro. Essa informação
deve ajudar os profissionais a entender quais práticas melhoram o valor da
análise técnica, especialmente à medida que a prática da análise técnica evoluiu
de maneira que pode ser chamada de “análise de fusão” (fusion analysis) ou a inclusão de técnicas de várias disciplinas integradas
para a seleção e tomada de decisões de investimento.
A
evolução da análise técnica
Ao
longo do tempo, a definição geral de análise técnica manteve-se constante. A
análise técnica é o estudo dos dados gerados pela ação dos mercados e pelo
comportamento e psicologia dos participantes e observadores do mercado. Tal
estudo é geralmente aplicado à previsão – isto é, estimar as probabilidades
para o curso futuro de preços para um mercado, investimento ou especulação, interpretando
os dados no contexto de precedente.
A
análise técnica abrange uma variedade de métodos para transformar histórias de
preços passados em previsões. No final dos anos 1800, os métodos envolviam
principalmente a criação de gráficos que seguiam o “método do livro”, conforme
documentado por Charles Dow e outros (Charles Dow, “Methods of Reading the Market”, Wall Street Journal, 20 de julho de
1901). Esse estilo de gráficos agora é chamado de método “ponto e figura”.
Gráficos de barras mais familiares foram desenvolvidos no início do século XX, tornando
a “análise de padrões” popular. Foram atribuídos nomes variados aos padrões,
mas todos serviram a pelo menos um de dois propósitos: identificar períodos de
tempo que provavelmente seria o início de uma nova tendência ou identificar
períodos de tempo em que as tendências existentes seriam provavelmente revertidas.
Em outras palavras, todos os padrões procuram definir períodos com alta
probabilidade de consolidação de preços ou reversão de preços.
Na
década de 1950, os gráficos eram amplamente utilizados, e as médias móveis, ou
linhas de tendência automatizadas, estavam sendo adicionadas aos gráficos
(Edwards, Magee e Bassetti, 2007). Buscando uma vantagem, analistas técnicos na
década de 1960 estavam usando técnicas matemáticas mais sofisticadas para
calcular médias móveis e outros indicadores. As novas médias móveis incluem
médias exponencialmente ponderadas, bem como médias triangulares ponderadas e
outras variações. No final, cada analista estava procurando uma vantagem, mas
os diferentes métodos de cálculo não resolveram os problemas envolvidos com as
médias móveis. Custos comerciais elevados, sinais atrasados e sinais de
negociação erróneos de curta duração causam problemas significativos, não
importa como a média é calculada. Ao descobrir que a matemática mais
sofisticada não aumentou drasticamente a eficácia das médias móveis, os
analistas criaram novos indicadores. O aumento do acesso a computadores levou a
uma proliferação de indicadores, muitos dos quais se baseiam nos preços de
fechamento como sua única série de dados e sujeitam os preços de fechamento a
diferentes formas de manipulação matemática. Sob os testes quantitativos,
muitos desses indicadores não resistiram ao teste de tempo ou ao exame
detalhado de analistas objetivos, enquanto alguns foram mostrados para agregar
valor ao processo de seleção de investimento.
Os
avanços no poder de processamento e nas habilidades de programação permitiram o
teste objetivo de indicadores e padrões de gráficos. Nos últimos anos, a
análise quantitativa e as finanças comportamentais validaram algumas das técnicas
utilizadas pelos analistas técnicos. A teoria financeira padrão incluiu até
mesmo uma das técnicas mais populares: a análise de Força Relativa, como a
praticada por analistas técnicos, que está intimamente relacionada com a
anomalia momentum das finanças padrão,
embora a diferença na nomenclatura possa esconder esta relação.
Crítica
à análise técnica
Como
observaram Lo e Hasanhodzic, a análise técnica é uma “disciplina legítima e
útil, coberta por associações espúrias e merecedora de mais estudos acadêmicos”.
Embora seja fácil descartar uma disciplina cujos profissionais usam a análise
visual para detectar a cabeça e ombros em padrões gráficos, os padrões são
frequentemente heurísticas ao invés de associações aleatórias. A análise de
gráficos é uma abordagem intuitiva para a previsão do mercado, compartilhando
uma meta com a análise quantitativa – que é uma abordagem estatística para a
previsão do mercado – e com a análise fundamentalista, que se baseia em um estudo
cuidadoso das demonstrações financeiras para prever retornos futuros. Os meios
de alcançar a meta são diferentes em todas as três formas de análise.
Se
a evolução da análise técnica tivesse seguido um processo científico
tradicional, como fez a análise fundamentalista e a quantitativa, haveria menos
críticas a ela. Em vez disso, os analistas técnicos têm, por vezes, se envolvido
em práticas questionáveis. Nos primórdios da análise técnica, muitas teorias
diferentes foram publicadas e promovidas – todas compartilhando o problema de
que o nexo causal ou empírico entre as observações e as previsões era frouxo ou
ausente. À medida que a disponibilidade de computadores aumentou, os testes
para estabelecer ou rejeitar tal ligação tornaram-se comuns. Os primeiros
testes sofreram os problemas de qualquer estudo nas ciências sociais – os testes
eram muitas vezes demasiadamente estreitos, os conjuntos de dados eram muito
pequenos e os resultados muitas vezes não podiam ser repetidos. No passado, a
análise técnica carecia de uma abordagem formal para testar, verificar e
comparar diferentes ideias. Esta falta de rigor levou a debates selvagens em
torno da eficácia de abordagens específicas que continua até hoje.
À
medida que a análise técnica amadureceu e os computadores estão sendo utilizados
para automatizar a análise, foram desenvolvidas ferramentas que permitem a
verificação consistente – como comparar sinais da análise técnica com o
desempenho da compra e manutenção de um índice (estratégia buy-and-hold) para avaliar se os retornos excedentes são atingíveis
com os sinais. Embora outros analistas financeiros possam ter incorporado
retornos excedentes em seus trabalhos anteriormente, analistas técnicos agora
comumente aplicam essa abordagem.
Uma
crítica mais válida da análise técnica é que ela é subjetiva. Embora muitas
técnicas analíticas exijam suposições e, portanto, incluam algum grau de
subjetividade, as previsões dos grafistas (analistas técnicos que enfatizam a
interpretação visual dos padrões gráficos em seu trabalho) são muitas vezes
vistas como completamente subjetivas. Malkiel (1996) concluiu que “sob o escrutínio
científico, a leitura de gráficos deve compartilhar um pedestal com a alquimia”.
Em parte, Malkiel chega a essa conclusão observando que “um gráfico derivado de
lançamentos aleatórios de moedas parece extraordinariamente o preço normal das
ações e até mesmo parece exibir ciclos". Malkiel alega que, como os gráficos
gerados por lançamentos de moedas não podem ser distinguidos dos gráficos de
preços reais, nenhum gráfico tem valor.
O
ponto de vista de Malkiel foi o tema de um estudo de Hasanhodzic, Lo e Viola
(2010), que descobriram que, quando as condições simulam as negociações do
mundo real, os dois tipos de gráficos podem ser distinguidos uns dos outros.
Este teste foi projetado para determinar se os seres humanos podem diferenciar
entre retornos financeiros reais versus
aleatórios. O experimento consistiu em um videogame online onde os jogadores são desafiados a distinguir os retornos
reais do mercado financeiro de permutações temporais aleatórias desses
retornos. Foi encontrada evidência estatística esmagadora (p-valores não
superior a 0,5%) que os indivíduos podem distinguir consistentemente entre os
dois tipos de séries temporais, refutando assim a crença generalizada de que os
mercados financeiros “parecem aleatórios”. Uma característica chave do
experimento é que os sujeitos recebem feedback
imediato sobre a validade de suas escolhas, permitindo-lhes aprender e se
adaptar. Os resultados do teste não discutem contra a crítica de que os
resultados individuais são subjetivos, mas demonstram que os gráficos podem ter
valor para analistas qualificados.
As
críticas relacionadas à subjetividade só podem ser combatidas com análise
objetiva. Aqui o registro é misturado. Alguns estudos acham que certos padrões
gráficos podem ser usados para gerar retornos em excesso. Outros estudos chegam
à conclusão oposta. Estudos conflitantes demonstram o fato de que existe um
grau de subjetividade mesmo em testes de programação destinados a identificar a
subjetividade na análise. No final, essa crítica deve ser aceita como válida
porque há um grau de subjetividade na análise de padrões, mesmo quando a
análise é feita usando regras automatizadas. Menos (ou mesmo nenhuma)
subjetividade é encontrada na análise de indicadores, especialmente quando os
estudos seguem protocolos de teste padrão e avaliam os resultados contra
padrões de referência.
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