segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Uma breve análise sobre Fraude - 2014 Report ACFE

A edição de 2014 do “Report to the Nations on Occupational Fraud and Abuse”, da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), baseia-se em 1.483 casos de fraude ocupacional, conforme relatado por Examinadores de Fraude Certificados (Certified Fraud Examiners – CFE), que investigaram os referidos casos. A análise destes casos fornece lições valiosas sobre como a fraude é cometida, como ela é detectada e como as organizações podem reduzir sua vulnerabilidade a esse risco.

Os participantes da pesquisa estimaram que uma organização típica perde aproximadamente 5% de suas receitas anuais devido a fraude. Se aplicado o PIB mundial estimado de 2013, a perda potencial projetada devido a fraudes em termos globais alcançaria cerca de US$ 3,7 trilhões.

A perda média causada por fraudes segundo o relatório foi de US$ 145.000. Além disso, 22% dos casos envolvem perdas de, pelo menos, US$ 1 milhão.

O tempo médio para detecção dos casos de fraude relatados foi de 18 meses.

Fraudes ocupacionais podem ser classificadas em três categorias principais: apropriações indébitas de ativos (asset misappropriations ou desvios de ativos), corrupção e fraude de demonstrações financeiras. Destes, desvios de ativos são o mais comum, ocorrendo em 85% dos casos, segundo o relatório, bem como é o tipo menos dispendioso, causando uma perda média de US$ 130.000. Em contraste, apenas 9% dos casos envolveram fraude de demonstrações financeiras, mas esses casos tiveram o maior impacto financeiro, com uma perda média de US$ 1 milhão. Esquemas de corrupção situa-se no meio tanto em termos de frequência (37% dos casos) como em perda média (US$ 200.000).

Muitos casos envolvem mais de uma categoria de fraude ocupacional. Aproximadamente 30% dos casos de fraude ocupacional identificados no estudo incluiu duas ou mais das três principais categorias.

“Dicas” são consistentemente e de longe o método de detecção mais comum. Mais de 40% de todos os casos foram detectados por uma dica/denúncia – mais do que duas vezes a taxa de qualquer outro método de detecção. Os funcionários responderam por quase metade de todas as dicas que levaram à descoberta de fraudes.

Organizações com linhas diretas (hotline) para detecção de fraudes são muito mais propensas a pegar fraude por uma dica, sendo a maneira mais eficaz de detectar fraude. Estas organizações também observaram que tal canal de comunicação era 41% menos caro e que detectaram fraudes 50% mais rapidamente.

Organizações menores tendem a sofrer desproporcionalmente grandes perdas devido a fraude ocupacional. Além disso, os riscos de fraude específicos enfrentados por pequenas empresas diferem daqueles enfrentados por grandes organizações. Neste sentido, determinadas categorias de fraude são muito mais proeminentes em pequenas entidades do que em suas contrapartes maiores.

Bancos e serviços financeiros, governo e administração pública e indústrias de transformação continuam a ter o maior número de casos notificados, segundo o relatório, enquanto as indústrias de mineração, setor imobiliário, petróleo e gás tiveram as maiores perdas média relatadas.

A presença de controles antifraude está associada a redução de perdas com fraude e com a duração mais curta da fraude. Esquemas de fraude que ocorreram em organizações vítimas de fraude que tinham implementado algum dos vários controles comuns de combate à fraude foram significativamente menos caro e foram detectados muito mais rapidamente do que as fraudes em organizações que não possuem estes controles.

Quanto maior o nível de autoridade do fraudador, maiores perdas referentes a fraude tendem a ocorrer. Proprietários e executivos representaram apenas 19% de todos os casos, mas eles causaram um prejuízo médio de US$ 500.000. Os funcionários, por outro lado, foram responsáveis por 42% das fraudes ocupacionais, mas provocaram uma perda média de “modestos” US$ 75.000. A média gerência cometeu 36% das fraudes com uma perda média de US$ 130.000.

Conluio ajuda os funcionários a escaparem de controles independentes e outros controles antifraude, permitindo-lhes roubar montantes maiores. A perda média referente a uma fraude cometida por uma única pessoa foi de US$ 80.000, mas quando o número de fraudadores aumentou, as perdas aumentaram drasticamente. Nos casos com dois autores a perda média foi de US$ 200.000, por três autores US$ 355.000 e quando quatro ou mais autores foram envolvidos a perda média ultrapassou US$ 500.000.

Cerca de 77% das fraudes foram cometidas por pessoas que trabalham em um dos sete departamentos: contabilidade, operações, vendas, executivo e alta gerência, serviço ao cliente, compras e finanças.

É preciso tempo e esforço para recuperar o dinheiro roubado por criminosos e muitas organizações dificilmente serão capazes de recuperar a integralidade dos recursos subtraídos. No momento da pesquisa, 58% das organizações vítimas de fraude não tinham recuperado qualquer montante de suas perdas devido à fraude e apenas 14% tinham conseguido a recuperação completa dos recursos.

Fraude ocupacional é um problema universal para as empresas ao redor do mundo. Apesar de algumas leves variações regionais, foi observado que os métodos utilizados por fraudadores para cometer seus crimes e por organizações para prevenir e detectar esquemas de fraude são bastante similares e consistentes em termos globais, tanto através dos países/regiões como ao longo do tempo. Essa consistência ressalta a natureza e abrangência da ameaça de fraude a todas as organizações.

As fraudes de duração mais longas causam mais danos financeiros. Os métodos passivos de detecção (confissão, notificação pela aplicação da lei, auditoria externa e por acidente) tendem a demorar mais tempo para trazer a fraude à atenção da gestão, o que possibilita que a perda relacionada a fraude cresça. Já as medidas de detecção proativas – como linhas diretas (hotlines), procedimentos de revisão pela gestão, auditorias internas e mecanismos de monitoramento de empregados – são vitais na rápida identificação de fraudes e na limitação de perdas.

As pequenas empresas vítimas de fraude são desproporcionalmente e notavelmente sub-protegidas por controles antifraude, uma combinação que as torna significativamente vulneráveis a esta ameaça. Embora os recursos disponíveis para medidas de prevenção e detecção de fraudes sejam limitados em muitas pequenas empresas, vários controles antifraude – como uma política antifraude, procedimentos formais de revisão pela gerência e treinamento antifraude para os membros da equipe – podem ser implementados com pouco desembolso financeiro direto e, assim, proporcionar um investimento rentável para proteger estas organizações de possíveis fraudes.

Auditorias externas são implementadas por um grande número de organizações, mas elas estão entre os controles menos eficazes na luta contra a fraude ocupacional. Auditoria externa foi o método de detecção primário em apenas 3% dos casos de fraude reportados na pesquisa, em comparação com 7% dos casos que foram detectados por acidente. Além disso, embora o uso de auditorias independentes de demonstrações financeiras ter sido associado com a redução de perdas médias e menor duração de esquemas de fraude, estas reduções estavam entre as menores dentre todos os controles antifraude analisados no estudo. Consequentemente, embora auditorias independentes sejam vitais na governança organizacional, os dados da pesquisa indicam que a auditoria externa não deve ser tida como um mecanismo antifraude primário (e/ou único) das organizações.

Muitos dos controles antifraude mais eficazes estão sendo negligenciados por uma parcela significativa das organizações. Por exemplo, o monitoramento e análise de dados de forma proativa foi utilizado por apenas 35% das organizações vítimas de fraude, segundo o estudo, mas a presença desse controle foi correlacionada com as fraudes que eram 60% menos onerosas e 50% de duração mais curta. Outros controles menos comuns – incluindo auditorias surpresa, um departamento ou equipe dedicados a fraude e avaliações formais de risco de fraude – mostraram associações similares com reduções em uma ou ambas destas medidas de danos devido a fraude. Ao determinar como investir recursos no combate à fraude, a administração deve considerar a eficácia observada das atividades de controle específicas e como esses controles irão reforçar a percepção de detecção de potenciais fraudadores.

A grande maioria dos profissionais fraudadores são réus primários; apenas 5% já haviam sido condenados por um crime relacionado a fraude antes de cometer os crimes, segundo o estudo. Além disso, 82% dos fraudadores nunca haviam sido punidos ou demitidos por um empregador, por conduta relacionada a fraude. Enquanto a verificação de antecedentes pode ser útil na seleção de alguns maus candidatos, talvez não possa fazer um bom trabalho de previsão do comportamento fraudulento. A maioria dos fraudadores trabalham para seus empregadores por anos antes de começarem a infringir, por isso o monitoramento do empregado, a compreensão dos fatores de risco e sinais de alerta de fraude são uma forma muito mais robusta para identificação de fraudes que uma triagem pré-contratação.

A maioria dos profissionais fraudadores apresentam certos traços comportamentais que podem ser sinais de alerta de seus crimes, tais como viver além de seus meios ou ter associações não usuais com fornecedores ou clientes. Em 92% dos casos analisados pelo menos uma bandeira vermelha (fator de risco) comportamental comum foi identificada antes da detecção da fraude. Administradores, empregados, auditores e outros devem ser treinados para reconhecer estes sinais de alerta que, quando combinado com outros fatores, podem indicar possíveis fraudes.


Informações adicionais podem ser encontradas em http://www.acfe.com/rttn-download-2014.aspx


OBS: Este relatório ainda não contemplava informações sobre a operação Lava Jato. Adicionalmente, como a maioria dos Examinadores de Fraude Certificados (Certified Fraud Examiners – CFE) atuam nos Estados Unidos, os dados das demais regiões podem estar subestimados.

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